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O que podemos aprender com o show de Lady Gaga em Copacabana?

Uma apresentação histórica, uma performance impecável e reflexões para além da música pop


Imagem impactante do público lotando a praia de Copacabana no emblemático Show da Lady Gaga, evidenciando a grandiosidade do evento musical no Rio de Janeiro.
Foto: Divulgação

Desde que foi anunciada oficialmente, em 21 de fevereiro, a vinda da diva pop Lady Gaga ao Brasil, já se esperava uma enorme comoção por parte dos fãs mais devotos da cantora — como de fato aconteceu.


A artista norte-americana atraiu, no dia 3 de maio, milhões de pessoas às famosas calçadas e areias tropicais de Copacabana.


Reunir 2,1 milhões de espectadores (segundo estimativas da capital fluminense) em uma única noite é, certamente, um feito notável.


Embora tenha sido uma ocasião especialmente memorável para fãs e admiradores, a história poderia ter sido marcada por momentos de pânico, violência e tragédia.


Para quem não sabe, um atentado estava sendo planejado por meio de uma plataforma digital de mensagens. Um grupo, identificado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, organizava um ataque coordenado com explosivos contra a plateia — com foco em crianças, adolescentes e principalmente pessoas LGBTQIAPN+.


Registro do palco imponente instalado na praia de Copacabana para o Show da Lady Gaga, destacando a produção visual de alto nível e o cenário icônico do litoral carioca.
Foto: Reprodução

Um plano frustrado e um ataque às minorias


Uma ameaça surgia silenciosamente em fóruns da internet, com o objetivo de promover violência motivada pelo ódio. O grande público abrangia várias camadas sociais e contemplava uma verdadeira pluralidade de pessoas LGBTQIAPN+ — grupo com o qual a cantora Lady Gaga se comunicou diretamente em diversos momentos do show em Copacabana.


A informação sobre o planejamento do ataque foi denunciada anonimamente ao Disque-Denúncia dias antes do evento. A partir de então, uma força-tarefa foi mobilizada em total sigilo para investigar a veracidade da denúncia — e constatou-se que havia, de fato, fortes rumores de um possível atentado. Após as investigações, um suspeito foi levado à prisão e outras oito pessoas, incluindo um adolescente, foram identificadas por suspeita de envolvimento. 


A operação chamada “Fake Monster” foi mantida sob discrição até a realização do evento. Veículos de notícias anunciaram rapidamente sobre o ocorrido, e o caso teve uma enorme repercussão nacional e internacional.


Embora a operação tenha obtido excelentes resultados ao desmantelar as futuras ações do grupo, outras questões profundas ainda permeiam todo o episódio.


Um sinal de alerta


Ainda que os envolvidos não tenham alcançado seu objetivo final, as autoridades devem considerar a ocasião como um sinal de alerta grave — e há dois motivos principais que justificam essa afirmação: primeiro, a promoção do discurso de ódio; e segundo, o surgimento de novos grupos extremistas.


Com a ampla cobertura da mídia, pode-se afirmar que foi lançado um holofote sobre aqueles que desejam se filiar a correntes de intolerância e violência — e isso sem contar que a ideia de um possível atentado num dos maiores eventos do segundo trimestre de 2025 pode inspirar diretamente outros grupos já existentes.


Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada em abril de 2024 pelo GPAHE (Global Project Against Hate and Extremism) apontou uma crescente movimentação, nos últimos anos, de 20 grupos extremistas ativos no Brasil, utilizando plataformas como Facebook, X (antigo Twitter), WhatsApp, Telegram, entre outras.


De acordo com a coordenadora do estudo, Heidi Beirich, o Brasil é considerado um lugar propício para o surgimento e proliferação de grupos extremistas, justamente por ser a segunda nação que mais passa tempo na internet e também pela falta de regulamentação nas políticas e diretrizes das plataformas digitais. 


Esses dados alarmantes evidenciam como o avanço da tecnologia é uma via de mão dupla, pois, além de a internet proporcionar uma variedade de benefícios e oportunidades aos usuários, ela tem se tornado, ao longo do tempo, uma verdadeira ponte para o estímulo da violência contra minorias. 


Discriminações por raça, gênero ou sexualidade são exemplos comuns, frequentemente encontrados em discussões acaloradas nos ambientes virtuais.


Como Freud explica a violência?


“Violência gera violência”
- Titãs

Sob a ótica da Psicanálise, Freud evidencia a violência como uma característica intrínseca à natureza humana. Ao longo do desenvolvimento da civilização, grandes conflitos violentos marcaram a história da humanidade. Isso demonstra que, em cada indivíduo, existe um impulso inconsciente que o conduz à agressividade, à destruição e ao retorno ao estado inorgânico — ou seja, um estado sem vida.


A “pulsão de morte”, assim definida por Freud, é uma força autodestrutiva capaz de se voltar tanto contra o próprio sujeito quanto contra os outros ao seu redor.


Ainda que as civilizações amenizem o estado de violência por meio de valores morais e da criação de mecanismos de resolução de conflitos — o que possibilita na maior harmonia coletiva —, sempre haverá um movimento retrógrado que nos impulsiona de volta às formas mais primitivas de convivência.


Ao utilizar a perspectiva psicanalítica e trazer seus conceitos para o contexto atual, podemos notar que a combinação de fatores como frustração, projeção pessoal e a ausência de projetos e significações para o futuro constitui um terreno fértil para que ideias e discursos extremistas se disseminem em diversos ambientes.


Muitos desses grupos não apenas se aproveitam, mas também se apropriam desses fatores com o objetivo de atrair mais simpatizantes para seus ideais. Um exemplo disso é o termo “incel” (abreviação de “involuntary celibate”), usado para identificar uma comunidade online profundamente misógina, que tem ganhado cada vez mais visibilidade nos últimos tempos.


Possíveis medidas preventivas


Diante de prováveis explicações sobre o comportamento individual e coletivo, e considerando as camadas complexas da natureza humana, surge um questionamento inevitável: como, de fato, podemos prevenir ações extremistas como a que quase ocorreu no show de Lady Gaga?


Assim, tal qual a pergunta, a resposta também não é simples, pois combater a violência contra minorias na esfera digital é um trabalho árduo e multifacetado. Aspectos como regulamentação, educação, mobilização coletiva e tecnologia devem ser considerados ferramentas indispensáveis para o progresso e para a transformação da sociedade como um todo.


No entanto, considerando que a mudança é um processo lento e que enfrenta diversas barreiras — sociais, políticas e culturais —, devemos, então, cruzar os braços e adotar uma postura de inércia? Não. Definitivamente, não.


Qualquer conteúdo de cunho ofensivo contra determinado grupo, que faça menção negativa e pejorativa à sua expressão e às características do seu modo de vida, deve ser imediatamente combatido e denunciado. Para isso, existem recursos essenciais que auxiliam, de forma segura e efetiva, tanto dentro quanto fora das plataformas digitais, conforme apresentaremos a seguir.


  1. Denúncia na plataforma (internamente)


Cada rede social possui, a um clique de distância, ferramentas próprias de denúncia, normalmente disponibilizadas nos três pontinhos ou por meio do ícone de “denunciar”, localizado ao lado da publicação. Entre as opções de denúncia, estão categorias como “discurso de ódio”, “violência” e “assédio”, entre outras. Cabe ao usuário analisar o conteúdo com atenção e selecioná-lo na categoria que mais se adequa à situação observada.


  1. Denúncia a órgãos oficiais (externamente)


Quando ultrapassa os limites do aceitável e se configura como crime de ódio — como em casos de racismo, homofobia, xenofobia, ameaças ou incitação à violência —, a denúncia deve ser imediatamente encaminhada às autoridades competentes. Dessa forma, a identificação de práticas criminosas, como ocorreu dias antes da apresentação da cantora Lady Gaga, se faz necessária, pois vidas estarão em perigo, expostas à violência e ao ódio.


A união que faz a verdadeira força 


Sob um cenário de crescente polarização e violência digital, o show da Lady Gaga não somente expôs a força da cultura pop como instrumento de união, mas também mostrou a vulnerabilidade das minorias diante de ataques motivados pelo ódio. A ameaça de um atentado, frustrado graças à ação rápida das autoridades e à denúncia da população, é um reflexo alarmante do momento que vivemos.


Por fim, respondendo à pergunta-título, o que aprendemos com o show da Lady Gaga é que, além do combate aos diversos tipos de violência, é necessário exercitar a empatia e promover o fortalecimento de uma rede de apoio e acolhimento às vítimas desses crimes.

Estabelecer um espaço seguro para que minorias se expressem livremente e se sintam protegidas deve ser a ideia norteadora para o início de uma nova formação social.


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